quarta-feira, 29 de outubro de 2008

AINDA UMA VEZ




Ainda há sombras

que se ocultam

em cantos mortiços.

Ainda há brumas densas

que encobrem horizontes.

Mas há também um ponto iluminado

na certeza oculta das coisas,

no centro de todas as dúvidas.

Desafiando águas revoltas,

ignorando brumas e sombras,

um barco retorna sereno.

Sobre si, o crepúsculo escorre lento.



Sonia R.

DOS MEDOS



Eu tenho medo de ruídos estranhos,

de sirenes na noite que acordam sonhos,
de relâmpagos acendendo nuvens,
de palavras soltas, de apelos inúteis.
Tenho medo das miragens,
das sombras que o sol estira no final do dia,
depois de um tanto e incontido brilhar.

Eu tenho medo das temperaturas imprevistas,
das minhas e das tuas inconstâncias
e do jeito, tão meu, de buscar telhas partidas
nos tetos altos das quimeras, só por uma nesga de céu.


Sonia R.

TARDE...

TARDE

é quando o horizonte encobriu-se
por trás dos dias nublados

é quando nos perdemos da certeza
de que a chuva lavará o silêncio do telhado

é quando percebemos a hora
que de esquecida, foi embora...


Tarde é quando não se restaura a fé,
é quando o coração se enche de cuidados

e caminha, pé ante pé,
por campos que sabe, minados...


Sonia R.


segunda-feira, 27 de outubro de 2008

IDÍLICO





Quem dera fosse possível

segurar o instante amado

parar o tempo que escoa

e aprisioná-lo no momento


como pinceladas revoltas

torções dolorosas,

lamentos do artista sobre a tela

tentando controlar as formas.



Sonia R.

quarta-feira, 22 de outubro de 2008

terça-feira, 21 de outubro de 2008

IMÊMORE







A poesia calada.

A rima sem verso.

A palavra cortada

antes do avesso,

antes do pranto,

antes do começo.


Houve flores? Houve um prado?

Nem sei.

O esquecimento chegou antes

de se atrever lembrado.


Humano e sublime,

Inumano e profano.

Amor é assim,

Vive de engano.



Sonia R.

VIAGEM






numa só leveza

o pensamento voa

as lembranças são sons

que os suspiros ecoam...


numa só ternura

as palavras se beijam

confundem-se as vozes

cala-se o tempo


num só jeitinho

seus braços se abrem

meu mundo é um ninho!



Sonia R.
20.10.2008

IN_POEMA





desverso-me se na folha

que matiza minhas letras

encontro apenas o branco

da tua ausência!


Sonia R.

I R O N I A








sonhos são asas que voam, voam...

soltas ao infinito

insaciáveis de alturas

de céus que cintilam...


à fantasia do vento

deixam-se levar

na ingenuidade de quem

não consegue suspeitar

que são asas

- asas e nada mais -


e que um dia caem, caem...

para nunca mais voar.





Sonia R.

terça-feira, 7 de outubro de 2008

morreu a flor...

ah! rosa desabrochada
semente germinada
em única noite de amor

morreu antes da aurora
soltas plumas, pétalas murchas
levadas pelo vento

efêmero momento
leve, tão breve
vida de flor!

.
Sonia R.

SOMBRA




uma solidão
.
pé ante pé
.
persegue a hora calada
.
Sonia R.

segunda-feira, 6 de outubro de 2008

CHOQUE






na distância aproximada

reflexos agônicos do caos

não sou eu nos versos do poeta

nem há rastros nos caminhos

[abelhas não zumbem sobre flores que espinhos
sugaram o mel]

não vou esperar a festa

há liras nas visões emanadas das luzes
que a vida, pura supremacia,

joga sobre a escuridão

expondo cruezas, sutis adjacências

evidenciando que além do pesar

aquém do amanhã,

a vida se faz agora.



. Sonia R.